quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Buracos cheios

Acho que uma vida não será suficiente para que eu tape todos os buracos. Vida cheia, vida vazia, buraco cheio, buraco vazio. Quanto tempo perdi com buracos cheios? muito, muito tempo. E esse tempo que passou, faz questão de me mostrar o que eu perdi, o que eu desisti e como eu agi.

Não me dei. Me reservei. E aqui agora estou colhendo alguns frutos que de tão simplórios me assustam. Frutos esses, que me desafiam, frutos inesperados, frutos fora de época. Como fazer pra lidar com um fruto fora de época? Ele está aqui, mas não está. O espectro está. E já vai. Já foi.

Coração não tão leve como queria, mas agradecida. Agradecida por ter me exposto ao mais vulnerável dos meus buracos e ter percebido que o buraco não é tão fundo assim. A gente se cura quando se torna vulnerável. É a única saída. Andar em círculos não me adiantava mais. Coragem menina, coragem! Buracos vazios, que enchem, buracos cheios que esvaziam. A vida empurrou, mas os buracos sempre aqui estarão. Fato. Nunca me sentirei uma pessoa completa. O buraco continua, mas não tão profundo. Ele faz parte de mim, presa acho que estarei. Sempre, a uma vida cheia de angústia, de dor, de vazios dilacerados, que nunca poderão ser compreendidos. Por mais que eu me pergunta, não há respostas, só vazios, cheios, cheios e vazios.

domingo, 11 de setembro de 2016

Abundante Solitude

Tenho pena. Não pena de quem não sonha, mas de quem não sonha acordado.
Tenho pena. Pena do tempo que de tão atrevido, me fez sentir pena de mim.
A pena de não senti-lo passar. Porque ele passa, galopa, corre, te acorrenta; te leva.
Na verdade ele sempre passa, você é que está sempre preso. Seria louco ser preso, se não fosse livre.
Mas livre não sou; pois o tempo que passou, me acorrentou e fez questão de me dizer que voltou, mas que preso, eu, sempre estou.

Mas minha prisão não é solitária. Solitária nunca estou, pois minha presença é abundante. A solidão é uma surda possibilidade que se quebra em escuro espaço chamado silêncio.

Silêncio. Silêncio é surdo, silêncio é belo, silêncio é singelo. Cria possibilidades, impede a ansiedade.
Alongo a solidão, e  com isso enxergo a solitude. Ela é a minha essência. Ela me nutre. De pessoas impertinentes, controladoras, apegadas, invasoras. Querem invadir meu pensamento.

O amor que prevalece é o desinteressado, o espontâneo, o livre. Não posso te tirar uma coisa que nunca te dei. Te falo o que quero, e falo se quero. O que pensa? o que pensa? perguntas, perguntas...se nutra dos espaços entre as respostas. Os espaços são as respostas. Tenho a companhia da solitude; aquela que me nutre de paz, a voluntária, bem vinda e desejada.


Não quero convívio. Não quero controle. Quero espaço; pausas longas em sentenças curtas. Se soubessem que a solidão liberta, não ocupa espaço, não existe tempo. A criação não precisa de tempo, precisa de espaço -precisa de liberdade. A serenidade até me entende, mas o caos da solitude me provoca. Quer que eu escolha, não quer que eu reaja.


Escolhi então ser livre, escolhi ser gente, escolhi ser alguém. Não a imagem de alguém. Alguém sem controle, alguém sem roteiro, alguém com espaço. Ninguém me ocupa, ninguém me controla. Não sou uma necessidade, sou uma escolha, uma contemplação -que tenta, que é. 


O que sou não é visível, não faz ruídos, não exala cheiro. Sou uma arte, sou o espaço que no silêncio, me cria. Cria em meio a uma multidão de pseudo-gente, fingindo ser gente, e eu querendo ser gente. 
Sou volúvel, sou escuro, sou mergulho.

Mudo. Ser sempre inconformado, intolerante, mutável. Caos de sentimentos, que são bem vindos, desejados, querem ser nutridos. Pseudo pessoas não me nutrem, me exaurem. Para se enxergar, é preciso se ver; e de forma bucólica e pueril. 


A minha estrutura, está sempre à prova. Meu instrumento de descobertas é o meu corpo. O corpo é a mais forma serena poesia. Companheiro que aprendi a escutar e a compreender. Compreender, é mergulhar na sua essência e minha essência não pertence a ninguém. Não pertencer, é uma eterna agonia que encanta, mas dedilhar seus sentimentos é uma arte. Minha essência é lenta, é mutável, se quebra, perde o interesse, mas é minha. Não se expõe essência, a preserva. Ela cria ritmos. Ritmos descompassados, agudos chorando grave. Agressividade e delicadeza; crueldade e compaixão são os espaços. Onde moram seus espaços? Nunca no outro, assim nunca estará em paz. Pessoas, coisas, não farão. Vozes vindas da sua existência querem saber: Quem é você?

Pessoas são poucas, pessoas -nem todas- pessoas são espaços; não olhos, narizes e boca.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Giro pra cima


Ser grande, ser norte, ser eixo; que gora rangendo o eixo. E quando range machuca o eixo. Eixo encaixado no eixo de pessoas sem eixo. Que consciência eu sou? Sou eu, sou espaço sou a luz entre os espaços..espicha mais vertical eu! que o horizontal está tão largo, fadigado ultra estimulado. Está farto está denso, está sem eixo...mas que desleixo.

Afetado pelos desafetos do mundo? afetado eu, afetado seu. sua luz afeta o teu e assim afeta o meu. Espicha norte! sou uma pessoa de sorte. Sorte minha em te encontrar, sorte sua me achar.

Pessoas não eixos; em desleixo, rodando no eixo, voltando aos eixos de um mundo sem eixo.

Ah como me encanta! o espaço pequeno de um mundo calado, sereno, surdo aos gritos do undo, cegos aos rótulos do mundo. Qual é a minha consciência? em que nível ela está?
Ficar aqui no vidro do mundo, fechado, calado, selado ou romper o lacre do mundo que grita, que manda que desmanda?

Não sei consciência..não sei o que me pede, não sei o que me acomete. Rompi, mas tentei colar, não sei que cola usar. Me ocupo, mas de repente me entrego ao ócio. Ocioso é meu vício que de tão viciado tornou-se enclausurado. Em vistas não vistas, em medos rotulados. Temo ser surda aos brilhos do mundo, temo ser cega aos gritos do mundo.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Pague e Pense


E de pensar já se foi mais um, e mais dois, e mais três. Eu hesitei, e foram mais 4 pulsos. Não concordei e lá se foram mais 6. Saiu fora dos padrões, já foi interrompido. Fecho os olhos e penso na liberdade de pensar, ih já fui censurado.

Mas no meu sonho sou livre, no meu sonho sou eu quem sou. Mas quem sou não posso ser? Questiono e lá se vão mais 8. Quanto custa ser quem sou? Muito caro não posso pagar, melhor deixar para o próximo mês, talvez deva parcelar. talvez deva não pensar.
Talvez e já pensei.

Penso no que posso fazer pra poder pensar em ser quem sou, e lá se vão mais 10.  Penso e já paguei mais um; desse jeito não passarei do meio do mês. Preciso economizar, melhor parar de pensar, esse pensamento tem que acabar.
Mas ele brota, não o controlo. Pensamento negativo; não posso mais pagar, mas tudo que eu quero é somente pensar.  
Chegou o meio do mês, devo 10 pensamentos; melhor pedir um empréstimo. Agora devo 30,  devo 40, devo 50! assim não vai dar, é melhor parar de pensar. Não consigo! melhor terceirizar meu pensamento. Pensaram por mim, decidiram que devo ser assim, fazer assim, falar assim, viver assim.

A sociedade distribui idéias, pego algumas. Sigo outras, vivo outras, faço delas a minha; em larga escala estou, influenciável me tornei e somente em círculos eu pensei.

Qual valor do pensamento? angustiei meu pensamento. E quando percebi, esqueci de ser quem sou, e só angústia me restou, programado é o que sou, inércia é o que me restou. Amanhã serei quem sou, depois quem me tornei, mais tarde não sei mais se serei, e lá se vão mais 100

terça-feira, 30 de junho de 2015

Labirinto

Sou um  descompasso, que de tão descompassado passa a fazer ritmo. Que entre ritmos e minutos leva segundos.

Segundos que se olham e viram milésimos. Se tocam, se entendem, se desencontram.
E o desencontro perambula em círculos, criam-se rotas, que arrastadas e desgastadas tornam-se atalhos, que míseros atalhos! atalhos pequenos. Percorro a geografia de uma ausência de ritmos, de fala, de sentidos. Não é tristeza, é ausência de riso. É um trecho que se afasta entre dois pontos, entre dois trechos, entre dois atalhos. Sou desatino, que em segundos leva horas, leva risos, leva sorrisos. Tristeza lenta, tristeza rápida...como corre! pegou um atalho, e entre passos e descompassos criou os traços. Enfim pousam, enfim correm, enfim marcam.

Meus traços desatinados fazem de mim um caminho, com atalhos desatinados, nunca percorridos, nunca avistados, nunca investidos.

E a geografia dos meus traços quer se unir aos segundos, que se tocam e viram tempo....arrastado tempo, batido tempo.

Tempo passou batido pelo trecho, pelo atalho, pelo sorriso. É um desatino. descompassado tempo! passa logo? passa rápido? passa batido? passa tanto que virou segundos, virou descompasso, virou desatino, virou labirinto.

Labirinto são minutos em segundos, que se olham e viram milésimos.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Vida sem vida


Sinto saudades. Saudades de coisas, de coisas da vida…de coisas não vistas, não vividas, de memórias não vividas. É um déjà vu com amnesia…acho que já esqueci isso antes. E antes eu achava que se eu fosse, eu alcançaria; se falasse eu magoaria; se silenciasse eu agradaria…ou omitia. Omitia o meu jeito incompreensível de cores berrantes…não, o meu jeito agride os olhos dos outros. 

Então seja mais neutra, mais contida!..contenha-se? A vida não gosta de pessoas suaves...
A vida em fases, capítulos, rodapés…a vida que volta, insiste em dar voltas. Seria o centro eu? Ou rodopio pelo eixo eu? Ah…saudades do pulo, da vida não comedida…saudades da beirada, da lasca, do desequilíbrio.
As escolhas que um dia não foram entendidas, lapidadas, discutidas….saudades do suspiro…suspiro do que não encontra, saudades daquele minuto! Faço de mim os segundos, mas eles se transformam em horas, em dias, em anos…
O seu cavalo selado já passou e a vida te cutuca pelo que não é. Pelo que não tem, pelo que não segue, pelo que apenas tem. A vida passa, te empurra, te desequilibra…desequilibra você ou é a vida passando? A que velocidade ela passa?
Saudade do trincado, do remendado, do inconclusivo….sua voz é aguda ou suave? Que tom que tem?
Por vezes ela ate cruza, eu atravesso mas não me sinto bem. Mas ela me segue, me persegue, me assombra. Me recorda do que não sou, do que não sou, do que eu não sou. Quantos despertares preciso pra acordar da minha inércia? Quantos depois? Quantos amanhãs? Quantos mais tarde? 

Amanhã a camada é grossa, é velha, é seca…não sei mais a minha essência, não sei mais aonde está a minha consciência.
Ah sua melindrada! Quanta assimetria e inconsistência! Passou a vida mirando fora quando o que queria estava dentro…
Curioso! certamente de fato não me conheço totalmente. Sou um ator vivendo a mesma peça, mas representando a própria vida. Buscando o que os outros querem, vivendo o que os outros vivem.

Me sinto faminta, sedenta, em desespero….até quando enxergarei com os olhos alheios? É conflitante…é hipócrita, é o desejo oculto de uma vida toda…uma vida que faz eco, mas o eco é de lamúria.


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Teia

O que faz? tão segura, caiu, tropeçou; momento confuso. Tropeço nos pensamentos, névoa nos desejos, claridade na realidade.
Pânico crescente, medo -não sei o que se quer aqui, não sei o que faço aqui, emaranhado.
Saia, se retire. Parece que o sonho imigrou, achei que estivesse só de passagem.
Ansiedade é estar com a cabeça onde o corpo não está.
 Teia de aranha; frágil mas forte e persistente com a pressão de uma ventania que insiste em se mostrar poderosa. Base abre? base fecha.
Se mantêm presente, e notável som a geada fria, a névoa o toque. O barulho da chuva me faz palpitar, e um velho novo destino, arriscar. Arriscar....

Solidão? sozinha? sozinha entre alguns, poucos entre intolerantes.
Energeticamente racionada, emocionalmente abundante; instável, estável.
Fecha, não pensa.
Pensa. chora. Emoções no personagem.
Sublime rotação, pesada levitação, vejo em cima os sentimentos de baixo. Roleta, gira, gira, está no mesmo lugar.
Cai, relaxa, deixa passar, deixa saber, deixa emanar, leve.
Alone, alone, always alone.

Alimentação mental. Do que está alimentando seu cérebro? cuidado. alerta. já sabe o que vem a seguir.

Não lute a favor do seu inimigo. Amigos? penso. Cabeça pesada, decisões que coçam, balançam, perduram. Volta, quantas voltas? quer perseverar? pare de desistir. Desisti? não sei, esfarela a realidade, tentarei? não racionalizarei, serei rei, serei eu, serei meu.