domingo, 11 de setembro de 2016

Abundante Solitude

Tenho pena. Não pena de quem não sonha, mas de quem não sonha acordado.
Tenho pena. Pena do tempo que de tão atrevido, me fez sentir pena de mim.
A pena de não senti-lo passar. Porque ele passa, galopa, corre, te acorrenta; te leva.
Na verdade ele sempre passa, você é que está sempre preso. Seria louco ser preso, se não fosse livre.
Mas livre não sou; pois o tempo que passou, me acorrentou e fez questão de me dizer que voltou, mas que preso, eu, sempre estou.

Mas minha prisão não é solitária. Solitária nunca estou, pois minha presença é abundante. A solidão é uma surda possibilidade que se quebra em escuro espaço chamado silêncio.

Silêncio. Silêncio é surdo, silêncio é belo, silêncio é singelo. Cria possibilidades, impede a ansiedade.
Alongo a solidão, e  com isso enxergo a solitude. Ela é a minha essência. Ela me nutre. De pessoas impertinentes, controladoras, apegadas, invasoras. Querem invadir meu pensamento.

O amor que prevalece é o desinteressado, o espontâneo, o livre. Não posso te tirar uma coisa que nunca te dei. Te falo o que quero, e falo se quero. O que pensa? o que pensa? perguntas, perguntas...se nutra dos espaços entre as respostas. Os espaços são as respostas. Tenho a companhia da solitude; aquela que me nutre de paz, a voluntária, bem vinda e desejada.


Não quero convívio. Não quero controle. Quero espaço; pausas longas em sentenças curtas. Se soubessem que a solidão liberta, não ocupa espaço, não existe tempo. A criação não precisa de tempo, precisa de espaço -precisa de liberdade. A serenidade até me entende, mas o caos da solitude me provoca. Quer que eu escolha, não quer que eu reaja.


Escolhi então ser livre, escolhi ser gente, escolhi ser alguém. Não a imagem de alguém. Alguém sem controle, alguém sem roteiro, alguém com espaço. Ninguém me ocupa, ninguém me controla. Não sou uma necessidade, sou uma escolha, uma contemplação -que tenta, que é. 


O que sou não é visível, não faz ruídos, não exala cheiro. Sou uma arte, sou o espaço que no silêncio, me cria. Cria em meio a uma multidão de pseudo-gente, fingindo ser gente, e eu querendo ser gente. 
Sou volúvel, sou escuro, sou mergulho.

Mudo. Ser sempre inconformado, intolerante, mutável. Caos de sentimentos, que são bem vindos, desejados, querem ser nutridos. Pseudo pessoas não me nutrem, me exaurem. Para se enxergar, é preciso se ver; e de forma bucólica e pueril. 


A minha estrutura, está sempre à prova. Meu instrumento de descobertas é o meu corpo. O corpo é a mais forma serena poesia. Companheiro que aprendi a escutar e a compreender. Compreender, é mergulhar na sua essência e minha essência não pertence a ninguém. Não pertencer, é uma eterna agonia que encanta, mas dedilhar seus sentimentos é uma arte. Minha essência é lenta, é mutável, se quebra, perde o interesse, mas é minha. Não se expõe essência, a preserva. Ela cria ritmos. Ritmos descompassados, agudos chorando grave. Agressividade e delicadeza; crueldade e compaixão são os espaços. Onde moram seus espaços? Nunca no outro, assim nunca estará em paz. Pessoas, coisas, não farão. Vozes vindas da sua existência querem saber: Quem é você?

Pessoas são poucas, pessoas -nem todas- pessoas são espaços; não olhos, narizes e boca.